Quarta regata Eldorado Brasilis, Vitória - Ilha da Trindade -Vitória.
Largada 18/01/2003
As 12:30 , no segundo Pier, Praia de Camburi.
20.06 W
40.07 S
Um dia antes da largada foi o meu noivado com a Flávia, dia 18 meu aniversário, um começo bem bacana.
Na verdade não estava preparado para ir a um regata destas, tampouco havia planejado, a vaga surgiu através de um "eutrocínio" que fiz na ordem de R$ 3000,00 na época, mais despesas de viagem que deram umas 400/500 pratas, ajundando a comprar o rancho e acertos finais no barco.
O Bruno Martinelli e o Guiga, estavam montando este projeto, que contava com um barco alugado e faltava grana , assim sendo , "comprei" o direito de tripular o Raja Starcut, e fui como cozinheiro de bordo, sem me sentir menos honrado por isto, na minha opinião Deus dá o frio conforme o cobertor, e tudo tem um sentido.
Os preparativos que envolvem uma regata deste porte, não são poucos. Uma semana antes da largada a tripulação se desdobrava a fim de sanar todas as pendências .
Cada qual corria atrás de alguma coisa, os uniformes, o rancho, o "Pau de Spy"( que não tinhamos)balsa de abandono, rádio SSB, e até mesmo o próprio delocamento do Rajada Starcut de Bracuhy até Vitória.
O projeto da regata, partiu do Guigui e do Bruno, no ano de 2002 , quando correu a regata com seu próprio barco, mais conhecido como Rajadão, e nesta edição da regata(2003), pretendiam algo mais confortável, nada mau o que conseguiram.
Um belo Benetau 36 pés super luxo, novo e confortável mas.. que não orçava nada, como relatarei adiante.
Na semana que antecedeu a regata, os barcos estavam atracados na marina do ICES, e o clima estava no ar.
Aquele lance de "circo" montado:- gente de tudo que é canto, barcos belíssimos, containners para as equipes, intermináveis rodas de bate-papo na varanda do clube regado a cervejinha gelada e até um cocktail foi servido ás tripulações.
Tudo com ampla cobertura da imprensa.
A tripulação do Rajada, super heterogênea , foi formada da seguinte forma;
- Comandante: Bruno Martinelli. 21 anos
- Proa; Eduardo Bediaga, 22 anos
- Proa 2; Bruno Larica, 21 anos
- Capitão e cozinha, Arturo Acosta, o Equatoriano de 30 anos.
- Organizador do time e faz tudo, Ricardo Guimarães 45 anos.
- Cozinha, auxílio no convés e cozinha; este que vos escreve,Renato Avelar, 34 anos
Sábado 18/01/2003
12:30 h ,na Praia de Camburi, é dado o tiro de largada rumo a Ilha da Trindade, 623 milhas á leste de Vitória.
O espetáculo foi de rara beleza, várias embarcações acompanharam a largada das 13 embarcações rumo a Ilha. O vento soprava forte, e ao cair da tarde foi apertando , e apertando , tal como o mar desencontrado , fazendo tudo parecer uma espécie de montanha russa. Pauleira o tempo todo, sem descando nem intervalos.
Diante destas circunstâncias , mar grosso e muito vento, a mínima e singela locomoção a bordo já eram tarefa hercúlea, imagine para cozinhar, tomar banho e principalmente dormir.
O que vem a cabeça?
- Uma semana com este vento de proa e este mar mexido, vai ser punk!!
Não sei se vou aguentar este sofrimento.
Mas...ficamos firmes, rizamos vela grande na segunda forra e enrolamos um bocado a genoa 3, e posicionamos os galões de água e diesel a barlavento a fim de dar uma adriçada no barco.
Foram aproximadamente 22 ou 23 horas de pauleira , depois começou a melhorar.O vento continuava forte, mas o mar diminuira bastante , dando uma estabilizada nas coisas e finalmete pudemos fazer uma refeição decente , tomamos banho e trocamos de roupa, ou seja nos recompomos com dignidade, se não tomar cuidado vc vira" mendigo".
A disciplina consigo e com o barco, é fator preponderante para uma boa viagem.
Diariamente , as 8 da manhã e às 8 da noite , conforme estabelecido pela CR, era feita a radiofonia, onde iríamos passar ao Rebocador de alto- mar "Tridente", o R 22 da Marinha do Brasil.
Desta forma , quando no horário da radiofonia , ligávamos o motor, pois o rádio ssb( alcançe mundial) consome energia com muita "vontade" e a comissão de regatas permitia que o ligássemos nestes horários para recarga de baterias, todavia sem engrenar marcha alguma , afinal estamos falando de um esporte de cavalheiros. Com a radiofonia:
- quando passávamos a Velok, direção , latitude e longitude, sabíamos a posição dos outros barcos e marcávamos na planilha de "batalha naval", distribuída pela organização, onde cada barco era representado por uma cor diferente, e íamos diagramando a planilha em reuniões durante a radiofonia, uma grande diversão.
Até o terceiro dia, as condições de vento e mar melhoraram bastante, havia um vento médio o pouco mar , muito pouco mar, mas ... com muitos pirajás( pequenos temporais, com curta duração e localização específica, na forma de cogumelos).
A tripulação trabalhou o tempo todo, trocando velas, rizando, enrolando vela, põe... , tira, coloca , volta, etc.
O difícil foi aguentar a overdose de Reggae que a garotada colocava 30 horas por dia, já não dava mais para aguentar aquela música, por muita sorte eu e Guiga achamos um CD de Bob Charles( roberto carlos) e outro de Vivaldi, parace meio excêntrico, mas salvou a pátria.
Regata é regata, o tempo todo tentando tirar o maximo proveito da embarcação, cada centímetro, cada ondinha. Isto sem falar que cada tripulante passou 4 horas por dia no leme, pois não tínhamos piloto automático, revezávamos os 6 tripulantes, por quatro horas , a fim de fechar o dia, 24 horas.
Ficar quatro horas no timão é assim( principalemten se o barco estiver adernado), dói primeiro um pé, depois o outro, aí vc tenta se ajeita, depois dói a perna, depois a bunda , depois as costas depois o braço, pescoço, depois tudo junto e do outro lado, ao fim de 4 horas vc quer sumir e descer para descansar, já não aguenta mais.
Logo nos primeiros dias, fiocu nítido que o barco Rajada-Starcut era muito pobre na orça, haja vista calar somente 1,5 metros , mas mesmo assim estávamos andando bem, pois trabalhávamos o tempo todo em prol de um bom desempenho.
Na noite do quarto dia tentamos um bordo mais ao Norte, a fim de ganharmos altura em relação a Ilha, estávamos derivando como toda a flotilha.
Pensamos em subir umas 60 ou 70 milhas ao norte durante á noite . obs:Fui veementemente contra.
A manobra foi um erro grotesco de estratégia, e nos custou a berlinda na regata.
O que ocorre é que os barcos já iam um pouco adiantre de nós , mas com menos "altura" em relação á ilha, ou seja estávamos a barlavento da flotilha e mais próximos da ilha, e quando cambassem , estariam perto, foi quando Bruno argumentou :
- Vamos ganhar altura e lá na frente o vento ronda( provável hipótese) e a gente ganha altura e distância.
Mas aconteceu exatemente o contrário, a flotilha subiu para uma longitude menor e a gente , tentando ganhar latitude. O vento não rondou, o "pessoal" foi embora e nós ficamos atolados , sem orça e sem vento, ou seja, um bordo de 8 horas , para o lugar errado e nos levou a uma perda de nada menos do que 24 horas em face a flotilha.
No dia seguinte a tripulação estava abalada , chateada, moral lá embaixo pelo "ferro" que tomamos , mas fazer o que?
É muita "água', mas muita água mesmo, 6 dias e 6 noites , velejando , timoneando, tirando o máximo do barco.
O negócio é não pensar no tempo ,vamos nessa, vamos embora que a ilha nos espera.
Contuniamos a regata com toda a fibra, e no final do sétimo dia de regata, no sábado , as 1;40 da manhã, depois de um dia inteiro de ventos fracos e muita corrente contra cruzamos a linha de chegada.
Avistamos a Ilha neste mesmo sábado, de manhã, e só alcançamos no início da madrugada do outro dia.
Puxa vida , como é difícil um contravento de 7 dias!!
Uma pessoa normal , sem conhecimento de regatas não pode imaginar o sofrimento que é , mas como tudo que sobe desce, sabíamos que a volta seria um travéz folgado, e muito, mas , muito mais confortável. Sem aquela adernada permanente e total desconforto.
No dia que antecedeu a chegada a Ilha, a tripulação organizou uma espécie de "rave" com muito gelobol ,
Chegarmos exaustos, cruzando a popa do Tridente, na enseada dos Portugueses, bem em frente a vila da marinha, o P.O.I.T , posto oficial da Ilha da Trindade e em seguida rumamos para a enseada do Principe , onde atracamos.
Na enseada , só estava atracado ainda, o "Mar sem Fim" , do João Lara, o dono da rádio Eldorado e patrocinador da regata, o resto da galera já tinha partido de volta ao ICES no cair da tarde do mesmo dia.
Fomos os penúltimos a chegar a ilha , fora os 2 abandonos( o Osklen , por falta de rádio- mais tarde soubemos que o rádio pifou, e o mastro também, havia quebrado, o rádio era detalhe na verdade, e o motor também, voltaram com mastração de fortuna) e do Domani, que nos cruzou retornando a Vitória a apenas 20 milhas da Ilha com sérios problemas no estai de proa.
Fiz um belo bacalhau com batatas para comemorar a chegada , mas a água que eu usei estava contaminanda com areia depositada no fundo dos tanques, o que tornou impossível mastigar .
Que merda! um delicioso e cheiroso prato, feito com esmero por horas de cucção, e que foi parar na íntegra dentro do lixo, ou melhor no mar, para os "purfas", por causa da areia em seus ingredientes.
Dormimos no bagaço, e na manhã seguinte , ao acordarmos o que se viu foi para tirar qualquer um do estado normal. Imagine uma ilha que parece intocada, longe pracaramba de tudo, onde não vai navio de passageiro, onde não vai lancha, onde não vai helicóptero, muito menos aviões.
Somente os veleiros e os navios da marinha, um local acima de tudo mágico, magnético, com um visual surreal , com contrastes de cores e texturas impressionantes, e também com picos altíssimos, todos em rochas escarpadas, magnífico!!!
A ilha possui 5 kms de extensão , por 2 de largura, sendo seu ponto culminante o pico do "desejado" com mais de 600 metros de altura.
Com sua formação vulcânica , a impressão que temos é que "ficou pronta" ontem , você nunca viu nada igual na vida, é sem palavras para descrever o colosso no meio do nada.
Há um paredão na estremidade sul da ilha com 300 metros de altura, mais conhecido como "bauducão", por sua semelhança com o saboroso panetone, pela cor avermelhada e pelo formato.
Neste paredão , há um túnel de 15 metros de altura e 250 metros de comprimento, que liga de um lado ao outro da rocha.
O mar dentro do túnel , é violentíssimo, há pouco tempo antes da regata , um "naval" que se aventurou lá desapareceu e morreu obviamente, seu corpo nunca foi encontrado.
O desembarque na Ilha é uma coisa muito difícil, como a ilha possui poucas praias, as que existem são todas cercadas de pedras e corais, e nenhum atracadouro natural.
Lá o mar cresce rápido , de uma hora para outra , sobe de verdade, 3 a 4 metros de altura.
Ao lado do Bauducão, tem uma outra rocha o "pão de açúcar", com impressioantes 398 metros de altura, e lar de milhares de árvores em suas locas.
O som emitido pelas aves, é incrivel, o vento "rasgando" e os pássaros cantando, barulho á vera, mas muito legal, jurássico.
Ficamos atracados no pé do Pão de Açucar, na enseada do Príncipe, onde aproveitamos e, pela manhã seguinte do dia da chegada a ilha, demos ótimos mergulhos na água transparente, com mais de 40 metros de visibilidade.
Os peixes belíssimos e azuis "purfas", que comem tudo o que vêem , até mesmo fezes, parecem "piranhas " e os navais morrem de medo deles, já eu... morria de medo dos Tubarões Lixa (dizem ser inofensivos)que habitam a Ilha, pois tubarão para mim , só o nosso amigo e velejador de wind.
No início da tarde de sábado, desembarcamos na ilha, fomos até o Tridente com o nosso veleiro, chegando pela sua popa em uma manobra dificílima e arriscada , dado o tamanho das ondas, 3 a 4 metros.
O Tridente estava atracado na enseada dos Portugueses , na face leste da ilha, e de lá pegaríamos a "cabrita" até a praia.
A primeira imagem que se vê do R22, ao se olhar para a enseada , é o "cadaver" de um veleiro francês, de aço, amarelo, que há pouco tempo se espatifara nas rochas durante uma virada de tempo que pegou de surpresa os tripulantes que desembarcaram na ilha para um jantar com o comandante e deixaram o barco sem ninguém a bordo, o que é realmente um risco altíssimo , e que repetimos na nossa estada , quase "danificando " seriamente o veleiro que ficara amarrado na popa do R22.
A cabrita é uma balsa que mais parece uma gailoa, que leva 12 homens de cada vez, e que trafega presa a um cabo de aço tensionado, ligando o R22 a praia, passando pelo meio da arrebentração com ondas de 3 metros e meio!! saberias o que é isto??
Emoção garantida!
Gugui foi mergulhando, meio que em transe.
Tão logo desembarcamos na ilha , entramos em um outro universo, o mundo dos " 40 ilheús" isolados.
Os homens da marinha se revezam em turnos de 4 em 4 meses , e todos tem uma espécie de síndrome de "corno" pelo fato de ficarem tanto tempo longe de casa, dando oportunidades...
Algumas coisas interessantes:
O por do sol inesquecível, a placa em homenagem a "sir Peter Blake", os carangueijos amarelos que sobem em árvores, a fila para telefonar( enorme), filme pornô passando o tempo todo( non stop) na sala de comunicação dos navais, cafezinho servido com canela em "pau", e a troca de um maço de cigarros derby por um boné da Courtier, (pois errei na conta do cigarro e fiquei na maior frissura), uma poita de um barco Japonês que achei na praia, trouxe e de dei de presente a Pablito anos depois ( para decorar a sua casa no canal de Vitória), o Duda Bediaga que enfiou o pé no ouriço e teve que caminhar um Km om o pé todo furado e ser atendido por um médico "esquisito", e o desgosto de saber que um dia antes da nossa chegada , rolou o churrasco de Gala com todas a tripulações, menos a gente, e nós ficamos com água na boca.
continua...
A base do P.O.I.T( posto oceânico da ilha da trindade) possui ótima infra-estrutura, e tem o aspecto de uma pequena vila perdida no meio do Atlântico, o que é aliás sem sobra de dúvidas.
Logo na chegada, no ponto de desembarque da cabrita está aguardando os “chegantes” um pitoresco escafandro, como que um boneco em tamanho real, que porta um placa em uma das mãos com os dizeres:
-“Cheguei, sou voluntário!”
Caminhando alguns metros avistamos a academia “Sopapo”, mais uma centena de metros a horta “esperança”, e mais adiante uma arvore de natal cheia de poitas, poitas que vão dar nas praias da ilha , perdidas por barcos em sua maioria japoneses, que pescam ilegalmente em nossa costa e em águas internacionais, e que viram , com o bom humor irreverente dos ilhéus, uma árvore de Natal temática.
Depois de desembarcarmos , saímos para fazer uma caminhada na Ilha, acompanhados pelo sub-comandante da base, saímos no sentido sul, passamos pela praia das Tartarugas, pela praia da Parede de vulcão, e fomos até o túnel do “bauducão”, passando pelas piscinas naturais, onde tomamos um delicioso banho de mar.
Em trindade as tartarugas tem um tamanho de uma mesa de 6 lugares, e se encontram os rastros delas por toda a praia.O tamanho de suas pegadas, ou melhor “rastros” e o também de seus ninhos é de dar medo, parece coisa de dinossauro.
Quando estávamos a bordo do veleiro , rumando da enseada dos príncipes rumo a enseada dos portugueses, vimos algumas delas nadando embaixo do barco, indescritível.
Uma pena elas só chegarem a praia durante a noite, mas como falei anteriormente, com uma dose de sorte avistamos algumas.
No caminho de volta a Vitória , vimos também um cardume de golfinhos, que nos presenteou e nos acompanhou por boa parte do dia .
O contato com a natureza nos deixa Zen, veja só que interessante:
Ver o sol nascer , o sol se por , ver a lua minguando , ver o mar infinito, sentir o vento lhe envolvendo, tudo isto não tem preço.
A gente entra numa sintonia, saca o movimento do mundo, sente a presença da terra no universo.
A técnica é simples:
- de manhã, vc vê o sol despontar a leste, lá pelas 5 e meia da manhã, bem na proa( na ida), só mar ao través e popa, céu e mar.
Rumamos em sentido do sol, indo literalmente atrás dele. Ele sobe e vc avança, corre por sobre você o dia todo e... de repente ele se põe na sua popa, bem a oeste.Realizando com num moto contínuo, seu movimento eterno , preciso e singular.
Depois vem a noite ( dia 18 a largada foi dada em lua cheia), no primeiro dia ela apareceu as 7 , 7 e meia da noite, e dia após dia acompanhamos sua evolução.
Ao cair da noite o céu fica escuro como breu, não dá para ver absolutamente nada, tudo é preto, neste momento você fica em companhia das estrelas, no primeiro dia um pouco timidas, mas a medida que nos enfiávamos mar a dentro , longe das cidades e seus clarões, isolados no meio ocenao o céu rapidamente se transforma.
Ficávamos aguardando a chegada da lua, como um espetáculo com hora e lugar marcado.
A cada dia a bela dama vai diminuindo o tamanho de seu rosto e atrasa para o encontro em exatos 40 minutos.
No final dos 13 dias de viagem , ela desapareceu, não veio ao encontro, iluminar o nosso caminho, dar luz as trevas da noite oceânica, todavia , mesmo assim mandou um pouco de sua claridade por trás do horizonte, nos deixou a vontade para flertarmos com as estrelas.
A cada dia acompanhei o nascer do sol, o pôr do sol, o cair da noite , a nascer da lua, as estrelas e constelações que já reconheço com facilidade, enfim acompanhei o mundo girar, simples não?!
O RETORNO.
Ficamos na ilha da madrugada de domingo até as 2;45 da madrugada de segunda feira, quando partimos deste ponto longínquo, fantasmagórico e maravilhoso.
Zarpamos da enseada do príncipe deixando para trás a âncora danfort de 20 kilos que havíamos lançado no meio da tarde, deixamos uma poita presa a ela, quem sabe no ano seguinte ainda nos aguardaria??
A F.D.P da âncora agarrou no fundo de areia e pedras , tentamos todas as manobras possíveis com o potente motor do Starcut, mas só seria possível retira-la mergulhando, e de noite, numa escuridão intensa, com o mar cheio de tubarões , e uma correnteza enorme, quem se habilita??, ta louco!!! deixa para lá, marcamos o ponto dela no gps e fomos embora.
Já em Vitória fomos surpreendidos pela tripulação do “ Mar sem fim” que havia resgatado a nossa âncora e nos entregado em mãos , em casa. Coisas de Thomas Lipton.
Cruzamos a proa do Tridente com um vento fresco de cerca de 15 nós, e dada a largada o cronômetro dispara em um regata contra o relógio.
Uma semana e um dia depois da largada , exatas 2;45 da manhã.
Velejamos todo o tempo com ventos pelo través, o que fez com que a regata adquirisse um aspecto mais esportivo e menos aventureiro/sôfrego, que na ida quase um teste de resistência física..
Com ventos favoráveis o barco surfou as ondas do atlântico cruzando no paralelo 20 as longitudes de 40 a 31 graus, numa velog de 6 a 9 nós.
Ondas grandes, bons ventos, o que mais poderíamos querer para vejelar?
Durante a tarde do segundo dia do retorno,ficamos encalmados, sem vento nenhum , durante pelo menos umas 3 intermináveis horas, é TERRÍVEL, super SACAL! O barco joga de um lado a outro, sacode a vera mas não sai do lugar.
Ao cair da tarde , com a queda da temperatura entrou uma brisa e o rajadão starcut voltou a singrar bonito.
Velejamos noite e dia, dia e noite, sempre com um timoneiro tirando o máximo em parceria com um trimer, que seguia regulando as velas, regata 24 horas por dia, á vera.
O tempo todo um tira e põe de velas que não se tem idéia, trabalho mesmo.Tira genoa, coloca balão, tira balão coloca genoa, quebra adriça sobe no mastro( c/ barco andando a mil ...).
O Arturo subiu no mastro 4 vezes para acertar a adriça, com um vento de 20 nós e ondas de 3 metros da altura.
Alías nas empopadas, nos ventos favoráveis, foi quebrando um monte de coisa do barco, toda hora uma besteira , primeiro a adriça, depois o garlindéu do pau de spy , depois o sistema de fixação dos moitões do traveller, depois o preventer, em seguida uma escota puída, a assim foi indo e a gente vendo o lindo e luxuoso benetau se transformando num verdadeiro laboratório de aparatos técnicos( gambiarras).
Apesar dos pequenos percalços o percurso de volta foi uma delícia, deu para curtir cada segundo no barco, timonear, surfar aquelas ondas, sentir a natureza, sentir o organismo, o próprio corpo se regenerando , se tonificando, a plena saúde do corpo e da alma.
No último dia de viagem , a noite começou com um ventão do caramba, balão em cima, e o barco se demonstrou excelente em...:- cavalos de pau, atravessava com uma facilidade incível, tinha que ficar vivo no leme senão era, plá-pla-plá, a vela chicoteando a mil até retomarmos o rumo novamente.
Céu estrelado, o barco deslizando, zunindo, todos dando o máximo de si , empenhados, fazendo cáculos de tempo para ver saber de nossas possibilidades com nossos concorrentes( curumi e shaltz).
Precisávamos chegar até as 9 da manhã para ganharmos as 12 horas que perdemos na ida e faturarmos a regata, recuperávamos hora por hora , dia por dia, o andamento estava excelente.
Tudo indo muito bem, a média, o rumo certinho e vento a vontade.
Cansado fui dormir as 2 e meia da manhã, ao término do meu quarto, ansioso por acordar e acompanhar a aproximação da terra.
Acordei com aquele sacode, pá ... pou... cleeeeeeeks.. pá.. calmaria total, boiávamos no meio do mar, que estava super mexido. Que merda!
A nossa previsão de chegada passara de 9 da manhã para as 13 horas, e a nossa colocação já era, mas mesmo assim fomos em frente com o astral de campeões pois cientes estávamos de todo esforço que fizemos em prol da performance.
Momentos finais.
9;45, entra um brisa de 4 nós e começamos a nos deslocar devagarzinho.
Como não tinha há muito o que ser fazer, a não se esperar, preparei a última refeição disponível a bordo, interessante pois acertamos a conta do rancho na mosca, ao abrir a lata de feijoada e prepara-la com alguns ingredientes extras como alho, cebola, bacon etc., tal como um arroz , terminava ali o nosso estoque de comidas.
Apriveitamos para tomar nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn banhos de água doce, no banheiro e tudo, e depois todos colocamos nossas roupas de gala limpinhas , prontos e ansiosos para chegarmos ao porto.
Já avistávamos o mestre álvaro desde o começo da manhã, que aos poucos com o vento entrando e entrando , foi se aproximando rapidamente, e no comecinho da tarde entramos empopados de balão na rota da praia de camburi, onde já nos esperava Alexandre Negão em seu “melhora”, apontamos para o clube ansiosos para chegar, e nos metros finais ainda rompemos o pau de spy ao meio.
Continua, mas é finalzinho.
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