domingo, 27 de abril de 2008

capítulo 1, introdução.

a galera da vela em 81. minha primeira embarcação, Meaípe 1977.

Halftonner Sir Wallace

O ano é 1967, Robin Knox Johnston, um oficial da marinha mercante inglesa, que acabara de trazer o pequeno ketch, de codinome Suahali da Ìndia, soube que Tabarly, um francês arqui- rival dos ingleses, estava preparando a construção de um trimarã para a regata trasatlântica, Para o sentimento íntimo e legítimo de um inglês, era necessário superá-lo de alguma forma.
Naquela época, os yacht-men já haviam feito todas as conquistas imagináveis, movidos apenas pelo desafio e pelo espírito de aventuras, muito longe dos Russel Couts , Bertarelli e Cayards dos dias atuais movidos pelo vil metal.
Mas restava ainda um grande desafio, a volta ao mundo em solitário e sem escalas, ainda não havia sido realizado.
Knox Johnston então , pega o pequeno Suahali ancorado em Benfleet, no Tâmisa e parte em 14 de junho de 1968 para o maior desafio até então tentado por um yacht-man.
Dez meses e meio depois , o Suahali chega a Falmouth, de onde partira , sem escalas e sozinho, respondendo Knox ao fiscal da alfãndega :
- de onde vens, brada o fiscal?
- de falmouth, bradou Knox, deixando antônito o fiscal.
Cito este cara, pois tem quatro fatos , que acredito que me predestinaram a ser um amante do mar e da vela, uma delas envolve diretamente Sir Johnston.
Como todo velejador que se preze, a travessia do Horn é um desafio, e este que vos escreve nasceu na manhã seguinte que Knox cruza o Horn, dia 18 de janeiro de 1969, em Belo Horizonte , milhas e milhas distante do mar.
Outro fato , é que meu avô , João Pimentel de Avelar ser um ilhéu da Ilha do Corvo, berço de homens do mar , valentes e intrépidos, sendo o Corvo a menor , a mais isolada e inóspita Ilha dos Açores, vovô veio para o Brasil de navio em 1911.
O terceiro é que minha mãe , que é de Belo Horizonte, morava na rua Espírito Santo , e tinha uma amiga chamada Marina Fonseca, que casou-se com um amigo do meu Pai.
O quarto é que meu pai, foi colega de escola em Ouro Preto de um cara chamado Elder Zenóbio, que casou com a Marina Fonseca ( que virou Marina Fonseca Zenóbio), e veio para Vitória acho que em 70,72, e que junto com o Camarão que era outro colega de faculdade , e que trouxe o "Seu Wallace" para a Beira da Praia.
O mundo é pequeno e... conspira a seu favor, podes crer.

Nasci em Bh, morei em Sabará, Monlevade e Salvador , de onde tenho minhas primeiras lembranças, uma delas é o cheiro de maresia , e do banho de mar na praia do Farol da Barra.
Com 4 anos vim para Vitória, de onde nossa família nunca mais saiu e nem pretende sair.
Assim como papai, o mar me exerce um encanto indescritível e inexplicável.

Segundo mamãe, tenho a vela até no nome: renato a-vela(r)!

O cheiro de mar, exerce um fascínio em nosso povo, tão logo mudamos para Vitória , papai comprou um lote em Meaípe, em frente ao riozinho, hoje poluído mas que na época foi a raia de minhas primeiras investidas, a 5 minutos a pé da praia. A casa ficou pronta em 1976 e passei por lá momentos marcantes de minha infancia , tendo deliciosas lembranças das minhas andanças por todos os cantos do vilarejo, explorando os costões , navegando em minha jangada feita com um portão de madeira , duas câmaras de ar e uma prancha de isopor , andando nos cavalos alugados do Seu Marvila, banhos de mar que sempre alcançavam a noite plena e aquele inconfundível cheiro da água salobra típica do rio Meaípe e que marca a cidade até hoje.

As minhas origens ilhéus/portuguesas são a única referência marítima que tive, pois papai nunca foi chegado a esportes, muito pelo contrário, não tenho nehuma lembrança do velho jogando bola ou coisa que o valha, ele preferia um violão, tira gosto, roda de papo e boemia , que a mim agrada muitíssimo.
O veio esportivo familiar é proveniente da família de mamãe , que era frequentadora assídua do Minas Tênis Clube em BH, local de prática desportiva de alto nível.
Meu tio Paulinho foi da seleção mineira de basquete e consequentemente meu primeiro ídolo.

Apesar de morarmos em Vitória, sempre tive referências mineiras , as intermináveis férias de verão, os passeios de auto-pista com os carros a motor na Pampulha, o parque Mangabeiras, o parque municipal, a praça da liberdade, o Xodó, o presépio Pipiripau, o Mineirão, a Variante marron 76 do tio Fernando, o Alfa Roxo 77 do mesmo tio Fernando, a FNM Alfa 2000 do tio Zé, as pizzas do Pizzaiolo, brincadeiras de faroeste na casa de meu primo Marcelo Marola Pimentel, futebol no Mackenzie, o cheiro de torresmo no apê da vó Vivita na Afonso Penna, em cima da sapataria americana, carteirinha de sócio temporário do Minas... ah quanta saudadade, lembro de tudo como se fosse ontem.

Foi lá no Minas que aprendi a nadar numas férias de verão em 1976, depois de quase ter morrido afogado na praia das castanheiras em Vitória, local que não existe mais, foi aterrado.
Estava andando com água pela canela , empurrando minha pranchinha de isopor, quando de repente caí num buraco feito pela draga que estava fazendo o aterro da praça dos Namorados, na época chamado de aterro da Condusa.
Quase fui desta para uma melhor, lembro de tudo com todos os detalhes, gritand0 socorro para meu querido irmão Léo (hoje nos vendo lá de cima), que não ouvia, e mamãe entrando a mil na água , com um estido branco florido de verde, com um relógio de metal pequenino que foi pro saco, minha irmãzinha no moisés, e por fim ser agarrado á unha pela genitora e levado para a beira da praia.
Fiquei totalmente encagassado com água, para aprender a nadar foi osso, no dia de ir nadar na piscina grande do Minas ( o debut) , que tem um cor escura por causa da fundura exigida pelo fosso do trampolim , caí fora, fugi, chorei até e não fui.
Depois, mamãe me colocou na natação do Praia Tênis, onde me tornei um peixe e desenvolvi grande habilidade na água.
A partir deste momento, o de aprender a nadar com confiança, passei a sentir o imenso prazer que o contato com este elemento( água) pode nos proporcionar, daí foram tempos de aprendizado, e muitas competições no Praia Tênis .
Quando mudamos para Vitória, fomos morar na rua José Teixeira, onde ficamos até 1976, quando papai comprou um apto na rua Moacir Avidos , na época com belíssima vista para o mar.
Em Salvador também tinhamos vista para o mar, mas de lá só me lembro do barulho do vento uivando nas frestas das janelas.
Aqui em Vitória , o mar me seduzia com toda sua magia , passava horas e horas olhando a paisagem , curtindo o som preferido dos meus irmãos mais velhos( pink floyd , electro light orchestra, sweet, beatles e outros da época).

O ano é o de 1978, meus irmãos na época com 13 e 15 anos( ambos nadadores do praia) e eu com 9, todos fomos convidados pela Marina Zenóbio a entrar na escola de vela do Iate.
Dos meus 2 irmãos , somente o Léo topou, o Alvaro com 15 já era um rapazote e estava numa de cocotar, e Léo foi ter aulas com Mário Aguirre , nas sextas feiras á tarde, e eu fui ter aulas aos
sábados de manhã com o Guará, a bordo do antigo pinguin amarelo do clube
Léo se entrosou bem com a vela, velejou por algum tempo, mas não sei se pelo fato de uma encrenca no mar que ele se envolveu com um optimsit em cima das pedras detonando tudo, num passeio acompanhado de um proeiro( meu primo Ronaldo de BH), e de estar já com uma idade e um peso avançado fizessem com que ele desistisse da vela por uns tempos, voltando anos depois quando ganho do meu pai um Laser que se chamava Deep, numeral 55929, comprado de Paulo Mad.
Nesse contexto, eu ia as aulas e achava aquele mundo uma coisa incrível; barcos, cabos , velas, nomes complicados , gente diferente e esportista , o mundo dos Yacht-Men.
Aos poucos fui trocando o Praia Tênis, para onde ia as 2 da tarde e ficava até as 6 ou 7 todos os dias jogando bola , nadando, brincando de pique na piscina, jogando tênis ou basquete, por ser um rato do Iate.
As aulas do Guará eram fantásticas, ele tinha um Marreco 16 , todavia as aulas eram dadas num
velho Pinguim como falei anteriormente.
Lembro de alguns que começaram comigo, a maioria colegas do Sacre-Couer, Fábio Frota, Céu, Karla Frota, Renato Santos Neves , Eduardo Zenóbio, Fernandinho Capezzuto, Alessandro , Hélvio Pichamone, em sua maioria todos filhos de funcinários da Vale dos colegas do papai; Elder, Camarão, e Cia.
O Guará , ao término do curso , levava a petizada para uma velejada no Marreco.
Saimos num dia normal, nordeste e algumas ondas, mas para mim foi como subir ao cume do everest.
Fiquei impressionado com o tamanho das ondas, mas me sentia muito seguro a bordo com o Guará, que na época tinha uns 30/35 anos e era como um pai pra a gente.
Acabou a escolinha e papai queria ir para meaipe todos fins de semana, puta merda!! meaipe começava a ficar sem graça, pois via os barcos velejando da janela de casa e ficava completamente triste , angustiado de não poder ir velejar , naquele mar verde , aquelas velinhas brancas, meus amiguinhos todos lá!
Precisava de arrumar um jeito de velejar , ficar por alí, a solução foram inúmeros convites "combinados"do meu amigo Laurentino Biccas , muitas vezes feitos até pelo seu pai ao seu Wallace, para deixar eu ir velejar com o Tininho a bordo do Zebrinha, um optmist daqueles antigassos de fibra, todo molengo, com o casco pintado com listras verticais de azul e branco.
Era eu o orgulhoso proeiro do optimist do Tininho, achava aquilo a coisa mais maravilhosa que poderia haver na vida.
Começei a pertubar com força o seu Wallace, queria um barco, queria ser "comandante", queria um universo só meu, meu primeiro espaço delimitado, minha primeira propriedade, minha liberdade e alegria, só não sabia disto ainda.
No ICES a vela se desenvolvia nos padrões de uma cidade pequena, mas sofisticada e elegante como sempre foi, não haviam muitas pessoas velejando, mas todos eram pessoas de alta educação , nem sempre ricos, mas todos muito bem educados.
Apesar de não existirem inúmeros barcos, das flotilhas estarem sofrendo um processo de esvaziamento com a saída da primeira geração de velejadores do cenário, ficando aquela lacuna, mas se produziam velejadores de alta qualidade.
A ladainha com seu Wallace funcionou, em alguns dias chegaria do ICRJ , pelas mãos de meu tio Lilino que na época morava no lá no Rio, o meu primeiro barco, o Xande.
Um belíssimo barco preto , de madeira , super hiper bem cuidado e com a vela vermelha.
continua...

Um comentário:

Antonio Carlos disse...

Legal Renato voce compartilhar seus primeiros passos na vela.