domingo, 27 de abril de 2008

Capitulo segundo, meu primeiro barco, o Xande.

Já estava "enfiado " no meio náutico, a escola de vela e as primeiras regatas tomavam um gosto super especial na minha vida, aquela fase dos 11 anos de idade a pré-adolescência chegando.

Minhas primeiras velejadas como proeiro no barco do Laurentino Biccas, o Zebrinha, provocaram em mim um efeito devastador positivo, juntamente com as incursões no pinguin do clube , que já era bem antigo, com sua pintura azul clarinha desbotando, e culminando com a aula de formatura no veleirinho de 16 pés, o marreco do nosso professor Guaracy, o Guará.
Acho que esta foi a última turma de velejadores formada pelo pinguin , ele depois se aposentou e "sumiu".

Naquele ano de 1979 , eu já frequentava as aulas do colégio Sacre-Couer e fazia parte de seu quadro de alunos, que para mim também era grande novidade , pois estudara até então no pequeno colégio Pica-Pau, numa turma que veio junta desde a primeira série até a a quarta, e com apenas 10 alunos( sempre os mesmos), passando assim para um colégio enorme, cheio de alunos, bem elitizado e com árdua disciplina.
Aquele ano foi muito difícil , muitas mudanças foram acontecendo rapidamente, e faltava alguma coisa para me deixar em ordem , as aulas de matemática no novo colégio eram um tormento, tinha enorme dificuladade em aprender, não gostava também daquela disciplina inútil das irmãs, o paraíso do "Não Pode", tal como o gradual afastamento do convívio diário e escolar com meus melhores amigos de infância, dos irmãos Petter e Rogério Dybwad, e toda a turminha do Pica-pau.
A turma do Sacre-Couer não era muito boa para mim, pelo fato de ser um "mineiro", um ser estrangeiro, o menor aluno da turma, a dificulade com a matemática, a rígida disciplina , dentre outras coisas me valeram a obter reprovação na quinta série, fracassei pela primeira vez.
Mais um tormento gigantesco em minha vida.
No Sacre-Couer, e naqueles dias, quem ficasse reprovado recebia um carimbo gigantesco de REPETENTE, "um ser asquiroso" e mantido a margem do convívio com as outras crianças, ou seja discriminação total.
Para piorar tudo, a reprovação me fez me afastar de vez dos últimos colegas do Pica-pau que migraram comigo para a nova escola , porém passaram de ano, e, eu .. fiquei no pau, como se dizia.
A cabeça do menino estava pronta para entrar em parafuso total, e mamãe estava um pouco alheia a tudo isto.
Todavia, papai, que sempre me acompanhou de perto, e de certa forma percebeu a necessidade que eu tinha de um ponto de apoio, um barco, um esporte.
Até esta época, antes de começar as aulas de velas, era um nadador da equipe oficial do Praia Tênis Clube, onde passava minhas tardes e onde tinha também um grande círculo de amigos, mas a partir de 1979 comecei a "migrar" lentamente para o IATE.
O clube não tinha optmists de escola, nem mesmo uma piscina para a gente brincar, e assim sendo ao término da escola de vela, ficaria eu sem barco e como muitos iniciantes , deixaria alí mesmo toda a vontade de velejar e nunca mais aparerceria no clube.
A minha vontade era maior que isto, e quando se quer se consegue, assim sendo , dada a percepção de papai, ele secretamente entra em contato com meu tio Lilino que morava no Rio e o autoriza a adquirir um barco.
Seria para mim e para o Léo , assim sendo, tio Lilino foi ao ICRJ e comprou um belíssimo barco de madeira, todo preto com as velas vermelhas, com carretinha e capa, o que na época era um luxo maior que ar condicionado e direção hidráulica.
O barco finalmente chegou! lembro de todos os detalhes daquele dia, na portaria do clube, o barco na minha frente, debaixo de uma capa de lona verde.
Tirei a capa e senti aquele cheiro inesquecível dos barcos de madeira, ele estava alí! semi-novo, super bem cuidado, todo completo, com moitão catraca harken e tudo mais.
A alegria durou pouco. Meu irmão Léo , 4 anos mais velho , tomou conta do brinquedo.
Continuei velejando, mesmo sem a posse definitiva do bem, mas procurava demonstrar amor e cuidado, talvez até mesmo devoção ao "Xande", pra que de alguma forma ele também gostasse de mim, e um dia fosse só meu, como um amante que divide a mullher mas, de tanto amor não se importa com esta dor, e acredita que um dia ela será só sua.
Um dia durante a semana, quando voltei da aula, soube que meu irmão saiu com o barco junto com nosso primo de BH ( o Ronaldo Simões), que passa férias por aqui, para velejar, com um nordestão daqueles, os dois leigos enfiaram o Xande em cima das pedras da casa dos Oliveira, e quase acabaram com o barco, o bichinho ficou dilacerado, lembro das feridas em seu casco, principalmente nas quinas no fundo, e da dor que eu senti naquele dia.
Já era 1980, e havíamos mudado recentemente para uma nova casa no bairro de jardim da penha, que na época era bastante deserto, fiquei mais isolado ainda do "mundo" e de meus amigos , apesar da casa ser bem perto da Praia do Canto e do Clube, onde eu morava, mas um pouco mais longe do Praia tênis, que ficou longe a beça para eu e minha caloi jovem verde limão.
Papai levou o barco lá para nossa casa e ele mesmo, vendo a dor do filho , restaurou- o em seu explendor dos dias da chegada, usou para pintar o barco um instrumento revolucionário: uma bomba de flit! deu até notícia no jornal do colégio.
O Léo ficou traumatizado e nunca mais o velejou nele, e eu... tive a oportunidade da minha vida.
Agora o barco era só meu, tinha finalmente um "mundo próprio", um bem durável, um espaço no tempo e no vazio dos meus 11 anos naquela fase de transformação que tanto me incomodava e que eu não me adaptava.

O barco era a peça que me faltava, o meu ponto de equilíbrio, a minha ferramenta de aceitação na sociedade mirim da Praia do Canto e do Sacre-Couer.
Me dediquei, me apoixonei !
Nos fins de semana acordava bem cedo e ia para o clube para "dar a volta a ilha" do Frade, que para mim era uma travessia trans-atlântica , lembro que meu companheiro de aventura era o Nandinho Capezzuto e seu barco verde escuro.
Vieram as primeiras regatas, e eu chegava sempre em último lugar.
Estavam deixando a classe optmist , naquele ano de 1980 uma geração de velejdaores campeões, expoentes eram o Alek Zaslawsky e o Cláudio Aguirre, que inclusive participara de um mundial em Portugal.
Os dois foram para o Laser, e quem ficou abocanhando as regatas foram o Marcelo Zenóbio, e o Ricardinho Figueiredo., um pouco mais jovens, na casa dos 14 anos.
Durante a temporada de 1979, comecei de deixar a lanterna, que ficava agora com o Renato Santos Neves , e com os outros garotos da turma, uns poucos que persistiam na escolinha.
Logo comecei a incomodar os veteranos, lembro-me que o meu primeiro resultado expressivo foi um tereceiro lugar na regata do clube Ìtalo brasileiro, em 1980, tenho o troféu até hoje , muito bem guardado, era na verdade uma bandeja.
Quem ganhouesta regata foi o Marcelo Zenóbio, em segundo o Ricardinho. O vento estava forte a beça e fazia muito frio, mas eu melhor que ningém sabia onde queria chegar , e o resultado não me surpreendeu.
Após esta regata, dei um salto em minha performace, fruto exclusivo da auto confiança que conquistara, e sempre andei entre os 3 primeiros colocados das regatas locais e despachei todos os outros veteranos e iniciantes, exceto o Marcelo e o Ricardinho.
Em 1981, o clube começava a viver um período de decadência, quando os antigos e brilhantes velejadores foram saindo e a nova geração não tinha grandes expoentes e talvez pela falta de barcos e pela saída da turma que comandava o ICES na época, como o Helder o João Marcio e a Marina , a classe caiu em decadência.
Os anos dourados do optimist capixaba estavam minguando.
No Ices, havia um outro velejador que disputava bastante comigo, era o Bruno Tommasi, mas que lentamente foi sendo presa fácil para minha fomeagem.
Eu só falava em barco, só lia revista de barco, só sonhava com barco, fui o primeiro garoto da época a usar Top-Sider, e me achava completamente diferente dos meninos do Sacre-Couer.
Marcelo Zenóbio e Ricardinho estavam saindo no fim de 1981, pois iriam estourar a idade limite da classe , que é até o último dia do ano em que vc completa 15 anos, e ficamos na flotilha com a saída deles e outros da geração com apenas uns 10 velejadores de optmist na ativa, dentre eles o Eduardo Zenóbio , grande amigo de infância, dos optmists, bicicross e carrinhos de rolimã.
O ICES na época era bem diferente, se resumia a parte que é hoje a piscina, onde ficava a garagem de optmist e snipes exatamente onde é a sauna hoje , e a garagem de laser que era no local da atual secretaria.
Haviam muitas lanchas e uns pouquíssimos veleiros, a marina era toda de madeira e ocupava a área em frente ao Iatinho"o original" se extendendo por uns 50 metros faceando o muro da casa da família Oliveira.
continua...

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