domingo, 27 de abril de 2008

capítulo 1, introdução.

a galera da vela em 81. minha primeira embarcação, Meaípe 1977.

Halftonner Sir Wallace

O ano é 1967, Robin Knox Johnston, um oficial da marinha mercante inglesa, que acabara de trazer o pequeno ketch, de codinome Suahali da Ìndia, soube que Tabarly, um francês arqui- rival dos ingleses, estava preparando a construção de um trimarã para a regata trasatlântica, Para o sentimento íntimo e legítimo de um inglês, era necessário superá-lo de alguma forma.
Naquela época, os yacht-men já haviam feito todas as conquistas imagináveis, movidos apenas pelo desafio e pelo espírito de aventuras, muito longe dos Russel Couts , Bertarelli e Cayards dos dias atuais movidos pelo vil metal.
Mas restava ainda um grande desafio, a volta ao mundo em solitário e sem escalas, ainda não havia sido realizado.
Knox Johnston então , pega o pequeno Suahali ancorado em Benfleet, no Tâmisa e parte em 14 de junho de 1968 para o maior desafio até então tentado por um yacht-man.
Dez meses e meio depois , o Suahali chega a Falmouth, de onde partira , sem escalas e sozinho, respondendo Knox ao fiscal da alfãndega :
- de onde vens, brada o fiscal?
- de falmouth, bradou Knox, deixando antônito o fiscal.
Cito este cara, pois tem quatro fatos , que acredito que me predestinaram a ser um amante do mar e da vela, uma delas envolve diretamente Sir Johnston.
Como todo velejador que se preze, a travessia do Horn é um desafio, e este que vos escreve nasceu na manhã seguinte que Knox cruza o Horn, dia 18 de janeiro de 1969, em Belo Horizonte , milhas e milhas distante do mar.
Outro fato , é que meu avô , João Pimentel de Avelar ser um ilhéu da Ilha do Corvo, berço de homens do mar , valentes e intrépidos, sendo o Corvo a menor , a mais isolada e inóspita Ilha dos Açores, vovô veio para o Brasil de navio em 1911.
O terceiro é que minha mãe , que é de Belo Horizonte, morava na rua Espírito Santo , e tinha uma amiga chamada Marina Fonseca, que casou-se com um amigo do meu Pai.
O quarto é que meu pai, foi colega de escola em Ouro Preto de um cara chamado Elder Zenóbio, que casou com a Marina Fonseca ( que virou Marina Fonseca Zenóbio), e veio para Vitória acho que em 70,72, e que junto com o Camarão que era outro colega de faculdade , e que trouxe o "Seu Wallace" para a Beira da Praia.
O mundo é pequeno e... conspira a seu favor, podes crer.

Nasci em Bh, morei em Sabará, Monlevade e Salvador , de onde tenho minhas primeiras lembranças, uma delas é o cheiro de maresia , e do banho de mar na praia do Farol da Barra.
Com 4 anos vim para Vitória, de onde nossa família nunca mais saiu e nem pretende sair.
Assim como papai, o mar me exerce um encanto indescritível e inexplicável.

Segundo mamãe, tenho a vela até no nome: renato a-vela(r)!

O cheiro de mar, exerce um fascínio em nosso povo, tão logo mudamos para Vitória , papai comprou um lote em Meaípe, em frente ao riozinho, hoje poluído mas que na época foi a raia de minhas primeiras investidas, a 5 minutos a pé da praia. A casa ficou pronta em 1976 e passei por lá momentos marcantes de minha infancia , tendo deliciosas lembranças das minhas andanças por todos os cantos do vilarejo, explorando os costões , navegando em minha jangada feita com um portão de madeira , duas câmaras de ar e uma prancha de isopor , andando nos cavalos alugados do Seu Marvila, banhos de mar que sempre alcançavam a noite plena e aquele inconfundível cheiro da água salobra típica do rio Meaípe e que marca a cidade até hoje.

As minhas origens ilhéus/portuguesas são a única referência marítima que tive, pois papai nunca foi chegado a esportes, muito pelo contrário, não tenho nehuma lembrança do velho jogando bola ou coisa que o valha, ele preferia um violão, tira gosto, roda de papo e boemia , que a mim agrada muitíssimo.
O veio esportivo familiar é proveniente da família de mamãe , que era frequentadora assídua do Minas Tênis Clube em BH, local de prática desportiva de alto nível.
Meu tio Paulinho foi da seleção mineira de basquete e consequentemente meu primeiro ídolo.

Apesar de morarmos em Vitória, sempre tive referências mineiras , as intermináveis férias de verão, os passeios de auto-pista com os carros a motor na Pampulha, o parque Mangabeiras, o parque municipal, a praça da liberdade, o Xodó, o presépio Pipiripau, o Mineirão, a Variante marron 76 do tio Fernando, o Alfa Roxo 77 do mesmo tio Fernando, a FNM Alfa 2000 do tio Zé, as pizzas do Pizzaiolo, brincadeiras de faroeste na casa de meu primo Marcelo Marola Pimentel, futebol no Mackenzie, o cheiro de torresmo no apê da vó Vivita na Afonso Penna, em cima da sapataria americana, carteirinha de sócio temporário do Minas... ah quanta saudadade, lembro de tudo como se fosse ontem.

Foi lá no Minas que aprendi a nadar numas férias de verão em 1976, depois de quase ter morrido afogado na praia das castanheiras em Vitória, local que não existe mais, foi aterrado.
Estava andando com água pela canela , empurrando minha pranchinha de isopor, quando de repente caí num buraco feito pela draga que estava fazendo o aterro da praça dos Namorados, na época chamado de aterro da Condusa.
Quase fui desta para uma melhor, lembro de tudo com todos os detalhes, gritand0 socorro para meu querido irmão Léo (hoje nos vendo lá de cima), que não ouvia, e mamãe entrando a mil na água , com um estido branco florido de verde, com um relógio de metal pequenino que foi pro saco, minha irmãzinha no moisés, e por fim ser agarrado á unha pela genitora e levado para a beira da praia.
Fiquei totalmente encagassado com água, para aprender a nadar foi osso, no dia de ir nadar na piscina grande do Minas ( o debut) , que tem um cor escura por causa da fundura exigida pelo fosso do trampolim , caí fora, fugi, chorei até e não fui.
Depois, mamãe me colocou na natação do Praia Tênis, onde me tornei um peixe e desenvolvi grande habilidade na água.
A partir deste momento, o de aprender a nadar com confiança, passei a sentir o imenso prazer que o contato com este elemento( água) pode nos proporcionar, daí foram tempos de aprendizado, e muitas competições no Praia Tênis .
Quando mudamos para Vitória, fomos morar na rua José Teixeira, onde ficamos até 1976, quando papai comprou um apto na rua Moacir Avidos , na época com belíssima vista para o mar.
Em Salvador também tinhamos vista para o mar, mas de lá só me lembro do barulho do vento uivando nas frestas das janelas.
Aqui em Vitória , o mar me seduzia com toda sua magia , passava horas e horas olhando a paisagem , curtindo o som preferido dos meus irmãos mais velhos( pink floyd , electro light orchestra, sweet, beatles e outros da época).

O ano é o de 1978, meus irmãos na época com 13 e 15 anos( ambos nadadores do praia) e eu com 9, todos fomos convidados pela Marina Zenóbio a entrar na escola de vela do Iate.
Dos meus 2 irmãos , somente o Léo topou, o Alvaro com 15 já era um rapazote e estava numa de cocotar, e Léo foi ter aulas com Mário Aguirre , nas sextas feiras á tarde, e eu fui ter aulas aos
sábados de manhã com o Guará, a bordo do antigo pinguin amarelo do clube
Léo se entrosou bem com a vela, velejou por algum tempo, mas não sei se pelo fato de uma encrenca no mar que ele se envolveu com um optimsit em cima das pedras detonando tudo, num passeio acompanhado de um proeiro( meu primo Ronaldo de BH), e de estar já com uma idade e um peso avançado fizessem com que ele desistisse da vela por uns tempos, voltando anos depois quando ganho do meu pai um Laser que se chamava Deep, numeral 55929, comprado de Paulo Mad.
Nesse contexto, eu ia as aulas e achava aquele mundo uma coisa incrível; barcos, cabos , velas, nomes complicados , gente diferente e esportista , o mundo dos Yacht-Men.
Aos poucos fui trocando o Praia Tênis, para onde ia as 2 da tarde e ficava até as 6 ou 7 todos os dias jogando bola , nadando, brincando de pique na piscina, jogando tênis ou basquete, por ser um rato do Iate.
As aulas do Guará eram fantásticas, ele tinha um Marreco 16 , todavia as aulas eram dadas num
velho Pinguim como falei anteriormente.
Lembro de alguns que começaram comigo, a maioria colegas do Sacre-Couer, Fábio Frota, Céu, Karla Frota, Renato Santos Neves , Eduardo Zenóbio, Fernandinho Capezzuto, Alessandro , Hélvio Pichamone, em sua maioria todos filhos de funcinários da Vale dos colegas do papai; Elder, Camarão, e Cia.
O Guará , ao término do curso , levava a petizada para uma velejada no Marreco.
Saimos num dia normal, nordeste e algumas ondas, mas para mim foi como subir ao cume do everest.
Fiquei impressionado com o tamanho das ondas, mas me sentia muito seguro a bordo com o Guará, que na época tinha uns 30/35 anos e era como um pai pra a gente.
Acabou a escolinha e papai queria ir para meaipe todos fins de semana, puta merda!! meaipe começava a ficar sem graça, pois via os barcos velejando da janela de casa e ficava completamente triste , angustiado de não poder ir velejar , naquele mar verde , aquelas velinhas brancas, meus amiguinhos todos lá!
Precisava de arrumar um jeito de velejar , ficar por alí, a solução foram inúmeros convites "combinados"do meu amigo Laurentino Biccas , muitas vezes feitos até pelo seu pai ao seu Wallace, para deixar eu ir velejar com o Tininho a bordo do Zebrinha, um optmist daqueles antigassos de fibra, todo molengo, com o casco pintado com listras verticais de azul e branco.
Era eu o orgulhoso proeiro do optimist do Tininho, achava aquilo a coisa mais maravilhosa que poderia haver na vida.
Começei a pertubar com força o seu Wallace, queria um barco, queria ser "comandante", queria um universo só meu, meu primeiro espaço delimitado, minha primeira propriedade, minha liberdade e alegria, só não sabia disto ainda.
No ICES a vela se desenvolvia nos padrões de uma cidade pequena, mas sofisticada e elegante como sempre foi, não haviam muitas pessoas velejando, mas todos eram pessoas de alta educação , nem sempre ricos, mas todos muito bem educados.
Apesar de não existirem inúmeros barcos, das flotilhas estarem sofrendo um processo de esvaziamento com a saída da primeira geração de velejadores do cenário, ficando aquela lacuna, mas se produziam velejadores de alta qualidade.
A ladainha com seu Wallace funcionou, em alguns dias chegaria do ICRJ , pelas mãos de meu tio Lilino que na época morava no lá no Rio, o meu primeiro barco, o Xande.
Um belíssimo barco preto , de madeira , super hiper bem cuidado e com a vela vermelha.
continua...

Capitulo segundo, meu primeiro barco, o Xande.

Já estava "enfiado " no meio náutico, a escola de vela e as primeiras regatas tomavam um gosto super especial na minha vida, aquela fase dos 11 anos de idade a pré-adolescência chegando.

Minhas primeiras velejadas como proeiro no barco do Laurentino Biccas, o Zebrinha, provocaram em mim um efeito devastador positivo, juntamente com as incursões no pinguin do clube , que já era bem antigo, com sua pintura azul clarinha desbotando, e culminando com a aula de formatura no veleirinho de 16 pés, o marreco do nosso professor Guaracy, o Guará.
Acho que esta foi a última turma de velejadores formada pelo pinguin , ele depois se aposentou e "sumiu".

Naquele ano de 1979 , eu já frequentava as aulas do colégio Sacre-Couer e fazia parte de seu quadro de alunos, que para mim também era grande novidade , pois estudara até então no pequeno colégio Pica-Pau, numa turma que veio junta desde a primeira série até a a quarta, e com apenas 10 alunos( sempre os mesmos), passando assim para um colégio enorme, cheio de alunos, bem elitizado e com árdua disciplina.
Aquele ano foi muito difícil , muitas mudanças foram acontecendo rapidamente, e faltava alguma coisa para me deixar em ordem , as aulas de matemática no novo colégio eram um tormento, tinha enorme dificuladade em aprender, não gostava também daquela disciplina inútil das irmãs, o paraíso do "Não Pode", tal como o gradual afastamento do convívio diário e escolar com meus melhores amigos de infância, dos irmãos Petter e Rogério Dybwad, e toda a turminha do Pica-pau.
A turma do Sacre-Couer não era muito boa para mim, pelo fato de ser um "mineiro", um ser estrangeiro, o menor aluno da turma, a dificulade com a matemática, a rígida disciplina , dentre outras coisas me valeram a obter reprovação na quinta série, fracassei pela primeira vez.
Mais um tormento gigantesco em minha vida.
No Sacre-Couer, e naqueles dias, quem ficasse reprovado recebia um carimbo gigantesco de REPETENTE, "um ser asquiroso" e mantido a margem do convívio com as outras crianças, ou seja discriminação total.
Para piorar tudo, a reprovação me fez me afastar de vez dos últimos colegas do Pica-pau que migraram comigo para a nova escola , porém passaram de ano, e, eu .. fiquei no pau, como se dizia.
A cabeça do menino estava pronta para entrar em parafuso total, e mamãe estava um pouco alheia a tudo isto.
Todavia, papai, que sempre me acompanhou de perto, e de certa forma percebeu a necessidade que eu tinha de um ponto de apoio, um barco, um esporte.
Até esta época, antes de começar as aulas de velas, era um nadador da equipe oficial do Praia Tênis Clube, onde passava minhas tardes e onde tinha também um grande círculo de amigos, mas a partir de 1979 comecei a "migrar" lentamente para o IATE.
O clube não tinha optmists de escola, nem mesmo uma piscina para a gente brincar, e assim sendo ao término da escola de vela, ficaria eu sem barco e como muitos iniciantes , deixaria alí mesmo toda a vontade de velejar e nunca mais aparerceria no clube.
A minha vontade era maior que isto, e quando se quer se consegue, assim sendo , dada a percepção de papai, ele secretamente entra em contato com meu tio Lilino que morava no Rio e o autoriza a adquirir um barco.
Seria para mim e para o Léo , assim sendo, tio Lilino foi ao ICRJ e comprou um belíssimo barco de madeira, todo preto com as velas vermelhas, com carretinha e capa, o que na época era um luxo maior que ar condicionado e direção hidráulica.
O barco finalmente chegou! lembro de todos os detalhes daquele dia, na portaria do clube, o barco na minha frente, debaixo de uma capa de lona verde.
Tirei a capa e senti aquele cheiro inesquecível dos barcos de madeira, ele estava alí! semi-novo, super bem cuidado, todo completo, com moitão catraca harken e tudo mais.
A alegria durou pouco. Meu irmão Léo , 4 anos mais velho , tomou conta do brinquedo.
Continuei velejando, mesmo sem a posse definitiva do bem, mas procurava demonstrar amor e cuidado, talvez até mesmo devoção ao "Xande", pra que de alguma forma ele também gostasse de mim, e um dia fosse só meu, como um amante que divide a mullher mas, de tanto amor não se importa com esta dor, e acredita que um dia ela será só sua.
Um dia durante a semana, quando voltei da aula, soube que meu irmão saiu com o barco junto com nosso primo de BH ( o Ronaldo Simões), que passa férias por aqui, para velejar, com um nordestão daqueles, os dois leigos enfiaram o Xande em cima das pedras da casa dos Oliveira, e quase acabaram com o barco, o bichinho ficou dilacerado, lembro das feridas em seu casco, principalmente nas quinas no fundo, e da dor que eu senti naquele dia.
Já era 1980, e havíamos mudado recentemente para uma nova casa no bairro de jardim da penha, que na época era bastante deserto, fiquei mais isolado ainda do "mundo" e de meus amigos , apesar da casa ser bem perto da Praia do Canto e do Clube, onde eu morava, mas um pouco mais longe do Praia tênis, que ficou longe a beça para eu e minha caloi jovem verde limão.
Papai levou o barco lá para nossa casa e ele mesmo, vendo a dor do filho , restaurou- o em seu explendor dos dias da chegada, usou para pintar o barco um instrumento revolucionário: uma bomba de flit! deu até notícia no jornal do colégio.
O Léo ficou traumatizado e nunca mais o velejou nele, e eu... tive a oportunidade da minha vida.
Agora o barco era só meu, tinha finalmente um "mundo próprio", um bem durável, um espaço no tempo e no vazio dos meus 11 anos naquela fase de transformação que tanto me incomodava e que eu não me adaptava.

O barco era a peça que me faltava, o meu ponto de equilíbrio, a minha ferramenta de aceitação na sociedade mirim da Praia do Canto e do Sacre-Couer.
Me dediquei, me apoixonei !
Nos fins de semana acordava bem cedo e ia para o clube para "dar a volta a ilha" do Frade, que para mim era uma travessia trans-atlântica , lembro que meu companheiro de aventura era o Nandinho Capezzuto e seu barco verde escuro.
Vieram as primeiras regatas, e eu chegava sempre em último lugar.
Estavam deixando a classe optmist , naquele ano de 1980 uma geração de velejdaores campeões, expoentes eram o Alek Zaslawsky e o Cláudio Aguirre, que inclusive participara de um mundial em Portugal.
Os dois foram para o Laser, e quem ficou abocanhando as regatas foram o Marcelo Zenóbio, e o Ricardinho Figueiredo., um pouco mais jovens, na casa dos 14 anos.
Durante a temporada de 1979, comecei de deixar a lanterna, que ficava agora com o Renato Santos Neves , e com os outros garotos da turma, uns poucos que persistiam na escolinha.
Logo comecei a incomodar os veteranos, lembro-me que o meu primeiro resultado expressivo foi um tereceiro lugar na regata do clube Ìtalo brasileiro, em 1980, tenho o troféu até hoje , muito bem guardado, era na verdade uma bandeja.
Quem ganhouesta regata foi o Marcelo Zenóbio, em segundo o Ricardinho. O vento estava forte a beça e fazia muito frio, mas eu melhor que ningém sabia onde queria chegar , e o resultado não me surpreendeu.
Após esta regata, dei um salto em minha performace, fruto exclusivo da auto confiança que conquistara, e sempre andei entre os 3 primeiros colocados das regatas locais e despachei todos os outros veteranos e iniciantes, exceto o Marcelo e o Ricardinho.
Em 1981, o clube começava a viver um período de decadência, quando os antigos e brilhantes velejadores foram saindo e a nova geração não tinha grandes expoentes e talvez pela falta de barcos e pela saída da turma que comandava o ICES na época, como o Helder o João Marcio e a Marina , a classe caiu em decadência.
Os anos dourados do optimist capixaba estavam minguando.
No Ices, havia um outro velejador que disputava bastante comigo, era o Bruno Tommasi, mas que lentamente foi sendo presa fácil para minha fomeagem.
Eu só falava em barco, só lia revista de barco, só sonhava com barco, fui o primeiro garoto da época a usar Top-Sider, e me achava completamente diferente dos meninos do Sacre-Couer.
Marcelo Zenóbio e Ricardinho estavam saindo no fim de 1981, pois iriam estourar a idade limite da classe , que é até o último dia do ano em que vc completa 15 anos, e ficamos na flotilha com a saída deles e outros da geração com apenas uns 10 velejadores de optmist na ativa, dentre eles o Eduardo Zenóbio , grande amigo de infância, dos optmists, bicicross e carrinhos de rolimã.
O ICES na época era bem diferente, se resumia a parte que é hoje a piscina, onde ficava a garagem de optmist e snipes exatamente onde é a sauna hoje , e a garagem de laser que era no local da atual secretaria.
Haviam muitas lanchas e uns pouquíssimos veleiros, a marina era toda de madeira e ocupava a área em frente ao Iatinho"o original" se extendendo por uns 50 metros faceando o muro da casa da família Oliveira.
continua...

Capítulo tereceiro, 1981 a 1984.

Como havia falado no capítulo anterior, a vela de base no ICES começava a ratear, em contrapartida a classe laser vivia seus dias de glória.
O motivo era muito simples de entender, os "valores e expoentes" do optmist Capixaba estavam migrando para a classe Laser, um barco moderníssimo para a época e que ainda contava com o apoio televisivo do protagonista da novela àgua viva, o "velejador de laser" Fábio Júnior.
O wind Surf chegava junto com esta onda, e Rominho, Fernandinho Giestas, Tubarão, Calango, Robinho destefani, Macaco e outros estavam lá!
As crianças caiam lentamente no esquecimento, ainda haviam grandes promessas, mas a continuidade estava realmente ameaçada.
As escolas de vela estavam rateando, e os pais que tocavam a escola em frente, viram seus filhos migrando para a laser e de certa forma não eram mais necessários dentro do contexto.
O ano de 1981 foi muito bom para mim, o Marcelo Zenóbio e o Ricardinho estouraram a idade limite e assim sendo fiquei som o caminho livre para o pódio.
Meu barco passava por sucessivas reformas no quintal de casa, ficando cada vez melhor, velas novas vinham do RJ, e eu treinava todos os dias.
Fato que lembro bem , é que durante os treinos , na maioria das vezes solitários, ficava imaginando um jeito de colocarf mordedores na escota do meu barco , para "aliviar " a dor que sentia nas mãos, o mesmo com a borda de de meu barquinho de madeira, que deixava minha bunda doendo a vera, dado a sua mínima espessura.
Tinha coisa pior, barcos como o ferramenta II do Paulinho Tommasi que sequer tinha borda.
Algumas vezes e espírito empreendedor baixava, e eu ia com meu optmist até dentro do porto de tubarão para encostar a mão nos navios, coisa de menino doido e que gostava de aventuras.
Numa tarde cinzenta de vento sul, saimos para treinar eu e o Bruno Tommasi, e vimos umas barbatanas na altura da Ilha Rasa, ficamos a-pa-vo-ra-dos achando que eram tubarões, todavia eram apenas botos.
As regatas se sucediam e o pódio era uma constante, o que de certa forma foi meio ruim para mim, pois naquela altura do campeonato não admitia perder de jeito nenhum.
Numa destas derrotas, fiquei possuído de raiva e comecei a xingar todos os nomes que me vieram a cabeça naquele momento, na CR estavam papai e Guará, e prontamente diante da cena infantil imbecil que protagonizava, papai vira para Guará e diz:
-aplica uma suspensão no garoto, é para ele aprender.
Dito e feito: 30 dias de molho.
Mas não adiantava, queria ficar bom , queria ser o melhor , queria a atenção das meninas , e aquela altura tive minha primeira paixão, Daniela Castello Branco, que era a fim do meu rival Bruno Tommasi, que zebra!
Treinava cada vez mais, mas sempre sozinho, só eu tinha a fomeagem necessária a evolução.
De tando treinar, convenci meu pai a me levar no meu primeiro campeonato brasileiro da classe optimist a ser realizado em João Pessoa Paraíba, em janeiro de 1992.
Comecei os meus preparativos para o campeonato acordando as 5 da matina e indo "correr" na praia de camburi, que passava nesta época por uma grande reforma e tinha uma das pistas interditada parcialmente.
Aguardava ansioso pela chegada do campeonato, consegui passar de ano, deixar a síndrome de repetente para trás, e até me saindo super bem em algumas matérias como inglês, história e geografia( estudos socias), tal como português, mas a matemática...
fiquei de recuperação, mas consegui me safar e passei!!
Agora estava indo para a sexta série , e papai me levaria para João Pessoa de avião, u-lá-lá!!
Viajar de avião era um must! e levaria o barco e tudo dentro dele!
Em setembro tivemos a taça cidade de vitória, um envento de repercussão nacional, e veio gente do RJ correr de optimist , e do rio e são paulo correr de laser.
Jonh kink, Jorge Zarif, Gustavo Vianna, Garoinha, e muitos outros.
Nesta ocasião tive a oportunidade de velejar com bons timoneiros de optimist, e ver suas "máquinas de regatas", todos de madeira, ainda não havima bons barcos de fibra, os que tinham eram péssimos e super fundo de quintal.
Durante a TCV , os velejadores de fora se hospedavam na casa da galera daqui, e lá em casa ficou hospedado o Willy Werner, um grande velejador de optimist que agora corria de wind Glider e ajudou papai com as dicas da reforma do xande, que eu mesmo mudara o nome para " fureta II", por sugestão do amigo Fabinho Ruschi.
Mais uma vez , a bomba de flit em ação!
Enfim chega janeiro e vamos a delegação capixaba para o campeonato na Paraíba.
A delegação era composta por :
Papai e Eu.
e o Fureta II.
Já no avião, o barco sofreu avarias , apesar da nova capa acolchoada que mamãe fez, toda xadrez! um mico daqueles, preta , branca e cinza, forrada com cobertor de lã por dentro.
Que viajem maravilhosa, chegamos em João Pessoa e fomos nos hospedar na casa de praia de um amigo de papai que ficava perto do Clube.

Capítulo quarto, de 1985 a 1988.

Capítulo 1quinto, 1989 a 1992..

Capítulo sexto, 92 a 94 , começo do trabalho, primeira viajem a Europa sozinho.

Capitulo sétimo, 1994 a 2000 , recomeça a fomeagem total.

Caítulo oitavo, Typhoon.

Capítulo nono, Regata Vitória Trindade 2003.


Quarta regata Eldorado Brasilis, Vitória - Ilha da Trindade -Vitória.
Largada 18/01/2003
As 12:30 , no segundo Pier, Praia de Camburi.
20.06 W
40.07 S

Um dia antes da largada foi o meu noivado com a Flávia, dia 18 meu aniversário, um começo bem bacana.
Na verdade não estava preparado para ir a um regata destas, tampouco havia planejado, a vaga surgiu através de um "eutrocínio" que fiz na ordem de R$ 3000,00 na época, mais despesas de viagem que deram umas 400/500 pratas, ajundando a comprar o rancho e acertos finais no barco.
O Bruno Martinelli e o Guiga, estavam montando este projeto, que contava com um barco alugado e faltava grana , assim sendo , "comprei" o direito de tripular o Raja Starcut, e fui como cozinheiro de bordo, sem me sentir menos honrado por isto, na minha opinião Deus dá o frio conforme o cobertor, e tudo tem um sentido.

Os preparativos que envolvem uma regata deste porte, não são poucos. Uma semana antes da largada a tripulação se desdobrava a fim de sanar todas as pendências .
Cada qual corria atrás de alguma coisa, os uniformes, o rancho, o "Pau de Spy"( que não tinhamos)balsa de abandono, rádio SSB, e até mesmo o próprio delocamento do Rajada Starcut de Bracuhy até Vitória.
O projeto da regata, partiu do Guigui e do Bruno, no ano de 2002 , quando correu a regata com seu próprio barco, mais conhecido como Rajadão, e nesta edição da regata(2003), pretendiam algo mais confortável, nada mau o que conseguiram.
Um belo Benetau 36 pés super luxo, novo e confortável mas.. que não orçava nada, como relatarei adiante.
Na semana que antecedeu a regata, os barcos estavam atracados na marina do ICES, e o clima estava no ar.
Aquele lance de "circo" montado:- gente de tudo que é canto, barcos belíssimos, containners para as equipes, intermináveis rodas de bate-papo na varanda do clube regado a cervejinha gelada e até um cocktail foi servido ás tripulações.
Tudo com ampla cobertura da imprensa.

A tripulação do Rajada, super heterogênea , foi formada da seguinte forma;

  1. Comandante: Bruno Martinelli. 21 anos
  2. Proa; Eduardo Bediaga, 22 anos
  3. Proa 2; Bruno Larica, 21 anos
  4. Capitão e cozinha, Arturo Acosta, o Equatoriano de 30 anos.
  5. Organizador do time e faz tudo, Ricardo Guimarães 45 anos.
  6. Cozinha, auxílio no convés e cozinha; este que vos escreve,Renato Avelar, 34 anos
Todos eles velejadores do ICES, e já conhecidos de outras regatas.
Sábado 18/01/2003
12:30 h ,na Praia de Camburi, é dado o tiro de largada rumo a Ilha da Trindade, 623 milhas á leste de Vitória.
O espetáculo foi de rara beleza, várias embarcações acompanharam a largada das 13 embarcações rumo a Ilha. O vento soprava forte, e ao cair da tarde foi apertando , e apertando , tal como o mar desencontrado , fazendo tudo parecer uma espécie de montanha russa. Pauleira o tempo todo, sem descando nem intervalos.
Diante destas circunstâncias , mar grosso e muito vento, a mínima e singela locomoção a bordo já eram tarefa hercúlea, imagine para cozinhar, tomar banho e principalmente dormir.
O que vem a cabeça?
- Uma semana com este vento de proa e este mar mexido, vai ser punk!!
Não sei se vou aguentar este sofrimento.
Mas...ficamos firmes, rizamos vela grande na segunda forra e enrolamos um bocado a genoa 3, e posicionamos os galões de água e diesel a barlavento a fim de dar uma adriçada no barco.
Foram aproximadamente 22 ou 23 horas de pauleira , depois começou a melhorar.O vento continuava forte, mas o mar diminuira bastante , dando uma estabilizada nas coisas e finalmete pudemos fazer uma refeição decente , tomamos banho e trocamos de roupa, ou seja nos recompomos com dignidade, se não tomar cuidado vc vira" mendigo".
A disciplina consigo e com o barco, é fator preponderante para uma boa viagem.
Diariamente , as 8 da manhã e às 8 da noite , conforme estabelecido pela CR, era feita a radiofonia, onde iríamos passar ao Rebocador de alto- mar "Tridente", o R 22 da Marinha do Brasil.
Desta forma , quando no horário da radiofonia , ligávamos o motor, pois o rádio ssb( alcançe mundial) consome energia com muita "vontade" e a comissão de regatas permitia que o ligássemos nestes horários para recarga de baterias, todavia sem engrenar marcha alguma , afinal estamos falando de um esporte de cavalheiros. Com a radiofonia:
- quando passávamos a Velok, direção , latitude e longitude, sabíamos a posição dos outros barcos e marcávamos na planilha de "batalha naval", distribuída pela organização, onde cada barco era representado por uma cor diferente, e íamos diagramando a planilha em reuniões durante a radiofonia, uma grande diversão.
Até o terceiro dia, as condições de vento e mar melhoraram bastante, havia um vento médio o pouco mar , muito pouco mar, mas ... com muitos pirajás( pequenos temporais, com curta duração e localização específica, na forma de cogumelos).
A tripulação trabalhou o tempo todo, trocando velas, rizando, enrolando vela, põe... , tira, coloca , volta, etc.
O difícil foi aguentar a overdose de Reggae que a garotada colocava 30 horas por dia, já não dava mais para aguentar aquela música, por muita sorte eu e Guiga achamos um CD de Bob Charles( roberto carlos) e outro de Vivaldi, parace meio excêntrico, mas salvou a pátria.
Regata é regata, o tempo todo tentando tirar o maximo proveito da embarcação, cada centímetro, cada ondinha. Isto sem falar que cada tripulante passou 4 horas por dia no leme, pois não tínhamos piloto automático, revezávamos os 6 tripulantes, por quatro horas , a fim de fechar o dia, 24 horas.
Ficar quatro horas no timão é assim( principalemten se o barco estiver adernado), dói primeiro um pé, depois o outro, aí vc tenta se ajeita, depois dói a perna, depois a bunda , depois as costas depois o braço, pescoço, depois tudo junto e do outro lado, ao fim de 4 horas vc quer sumir e descer para descansar, já não aguenta mais.
Logo nos primeiros dias, fiocu nítido que o barco Rajada-Starcut era muito pobre na orça, haja vista calar somente 1,5 metros , mas mesmo assim estávamos andando bem, pois trabalhávamos o tempo todo em prol de um bom desempenho.
Na noite do quarto dia tentamos um bordo mais ao Norte, a fim de ganharmos altura em relação a Ilha, estávamos derivando como toda a flotilha.
Pensamos em subir umas 60 ou 70 milhas ao norte durante á noite . obs:Fui veementemente contra.
A manobra foi um erro grotesco de estratégia, e nos custou a berlinda na regata.
O que ocorre é que os barcos já iam um pouco adiantre de nós , mas com menos "altura" em relação á ilha, ou seja estávamos a barlavento da flotilha e mais próximos da ilha, e quando cambassem , estariam perto, foi quando Bruno argumentou :
- Vamos ganhar altura e lá na frente o vento ronda( provável hipótese) e a gente ganha altura e distância.
Mas aconteceu exatemente o contrário, a flotilha subiu para uma longitude menor e a gente , tentando ganhar latitude. O vento não rondou, o "pessoal" foi embora e nós ficamos atolados , sem orça e sem vento, ou seja, um bordo de 8 horas , para o lugar errado e nos levou a uma perda de nada menos do que 24 horas em face a flotilha.
No dia seguinte a tripulação estava abalada , chateada, moral lá embaixo pelo "ferro" que tomamos , mas fazer o que?
É muita "água', mas muita água mesmo, 6 dias e 6 noites , velejando , timoneando, tirando o máximo do barco.
O negócio é não pensar no tempo ,vamos nessa, vamos embora que a ilha nos espera.
Contuniamos a regata com toda a fibra, e no final do sétimo dia de regata, no sábado , as 1;40 da manhã, depois de um dia inteiro de ventos fracos e muita corrente contra cruzamos a linha de chegada.
Avistamos a Ilha neste mesmo sábado, de manhã, e só alcançamos no início da madrugada do outro dia.
Puxa vida , como é difícil um contravento de 7 dias!!
Uma pessoa normal , sem conhecimento de regatas não pode imaginar o sofrimento que é , mas como tudo que sobe desce, sabíamos que a volta seria um travéz folgado, e muito, mas , muito mais confortável. Sem aquela adernada permanente e total desconforto.
No dia que antecedeu a chegada a Ilha, a tripulação organizou uma espécie de "rave" com muito gelobol ,
Chegarmos exaustos, cruzando a popa do Tridente, na enseada dos Portugueses, bem em frente a vila da marinha, o P.O.I.T , posto oficial da Ilha da Trindade e em seguida rumamos para a enseada do Principe , onde atracamos.
Na enseada , só estava atracado ainda, o "Mar sem Fim" , do João Lara, o dono da rádio Eldorado e patrocinador da regata, o resto da galera já tinha partido de volta ao ICES no cair da tarde do mesmo dia.
Fomos os penúltimos a chegar a ilha , fora os 2 abandonos( o Osklen , por falta de rádio- mais tarde soubemos que o rádio pifou, e o mastro também, havia quebrado, o rádio era detalhe na verdade, e o motor também, voltaram com mastração de fortuna) e do Domani, que nos cruzou retornando a Vitória a apenas 20 milhas da Ilha com sérios problemas no estai de proa.
Fiz um belo bacalhau com batatas para comemorar a chegada , mas a água que eu usei estava contaminanda com areia depositada no fundo dos tanques, o que tornou impossível mastigar .
Que merda! um delicioso e cheiroso prato, feito com esmero por horas de cucção, e que foi parar na íntegra dentro do lixo, ou melhor no mar, para os "purfas", por causa da areia em seus ingredientes.
Dormimos no bagaço, e na manhã seguinte , ao acordarmos o que se viu foi para tirar qualquer um do estado normal. Imagine uma ilha que parece intocada, longe pracaramba de tudo, onde não vai navio de passageiro, onde não vai lancha, onde não vai helicóptero, muito menos aviões.
Somente os veleiros e os navios da marinha, um local acima de tudo mágico, magnético, com um visual surreal , com contrastes de cores e texturas impressionantes, e também com picos altíssimos, todos em rochas escarpadas, magnífico!!!
A ilha possui 5 kms de extensão , por 2 de largura, sendo seu ponto culminante o pico do "desejado" com mais de 600 metros de altura.
Com sua formação vulcânica , a impressão que temos é que "ficou pronta" ontem , você nunca viu nada igual na vida, é sem palavras para descrever o colosso no meio do nada.
Há um paredão na estremidade sul da ilha com 300 metros de altura, mais conhecido como "bauducão", por sua semelhança com o saboroso panetone, pela cor avermelhada e pelo formato.
Neste paredão , há um túnel de 15 metros de altura e 250 metros de comprimento, que liga de um lado ao outro da rocha.
O mar dentro do túnel , é violentíssimo, há pouco tempo antes da regata , um "naval" que se aventurou lá desapareceu e morreu obviamente, seu corpo nunca foi encontrado.
O desembarque na Ilha é uma coisa muito difícil, como a ilha possui poucas praias, as que existem são todas cercadas de pedras e corais, e nenhum atracadouro natural.
Lá o mar cresce rápido , de uma hora para outra , sobe de verdade, 3 a 4 metros de altura.
Ao lado do Bauducão, tem uma outra rocha o "pão de açúcar", com impressioantes 398 metros de altura, e lar de milhares de árvores em suas locas.
O som emitido pelas aves, é incrivel, o vento "rasgando" e os pássaros cantando, barulho á vera, mas muito legal, jurássico.
Ficamos atracados no pé do Pão de Açucar, na enseada do Príncipe, onde aproveitamos e, pela manhã seguinte do dia da chegada a ilha, demos ótimos mergulhos na água transparente, com mais de 40 metros de visibilidade.
Os peixes belíssimos e azuis "purfas", que comem tudo o que vêem , até mesmo fezes, parecem "piranhas " e os navais morrem de medo deles, já eu... morria de medo dos Tubarões Lixa (dizem ser inofensivos)que habitam a Ilha, pois tubarão para mim , só o nosso amigo e velejador de wind.
No início da tarde de sábado, desembarcamos na ilha, fomos até o Tridente com o nosso veleiro, chegando pela sua popa em uma manobra dificílima e arriscada , dado o tamanho das ondas, 3 a 4 metros.
O Tridente estava atracado na enseada dos Portugueses , na face leste da ilha, e de lá pegaríamos a "cabrita" até a praia.
A primeira imagem que se vê do R22, ao se olhar para a enseada , é o "cadaver" de um veleiro francês, de aço, amarelo, que há pouco tempo se espatifara nas rochas durante uma virada de tempo que pegou de surpresa os tripulantes que desembarcaram na ilha para um jantar com o comandante e deixaram o barco sem ninguém a bordo, o que é realmente um risco altíssimo , e que repetimos na nossa estada , quase "danificando " seriamente o veleiro que ficara amarrado na popa do R22.
A cabrita é uma balsa que mais parece uma gailoa, que leva 12 homens de cada vez, e que trafega presa a um cabo de aço tensionado, ligando o R22 a praia, passando pelo meio da arrebentração com ondas de 3 metros e meio!! saberias o que é isto??
Emoção garantida!
Gugui foi mergulhando, meio que em transe.
Tão logo desembarcamos na ilha , entramos em um outro universo, o mundo dos " 40 ilheús" isolados.
Os homens da marinha se revezam em turnos de 4 em 4 meses , e todos tem uma espécie de síndrome de "corno" pelo fato de ficarem tanto tempo longe de casa, dando oportunidades...
Algumas coisas interessantes:
O por do sol inesquecível, a placa em homenagem a "sir Peter Blake", os carangueijos amarelos que sobem em árvores, a fila para telefonar( enorme), filme pornô passando o tempo todo( non stop) na sala de comunicação dos navais, cafezinho servido com canela em "pau", e a troca de um maço de cigarros derby por um boné da Courtier, (pois errei na conta do cigarro e fiquei na maior frissura), uma poita de um barco Japonês que achei na praia, trouxe e de dei de presente a Pablito anos depois ( para decorar a sua casa no canal de Vitória), o Duda Bediaga que enfiou o pé no ouriço e teve que caminhar um Km om o pé todo furado e ser atendido por um médico "esquisito", e o desgosto de saber que um dia antes da nossa chegada , rolou o churrasco de Gala com todas a tripulações, menos a gente, e nós ficamos com água na boca.
continua...
A base do P.O.I.T( posto oceânico da ilha da trindade) possui ótima infra-estrutura, e tem o aspecto de uma pequena vila perdida no meio do Atlântico, o que é aliás sem sobra de dúvidas.
Logo na chegada, no ponto de desembarque da cabrita está aguardando os “chegantes” um pitoresco escafandro, como que um boneco em tamanho real, que porta um placa em uma das mãos com os dizeres:
-“Cheguei, sou voluntário!”
Caminhando alguns metros avistamos a academia “Sopapo”, mais uma centena de metros a horta “esperança”, e mais adiante uma arvore de natal cheia de poitas, poitas que vão dar nas praias da ilha , perdidas por barcos em sua maioria japoneses, que pescam ilegalmente em nossa costa e em águas internacionais, e que viram , com o bom humor irreverente dos ilhéus, uma árvore de Natal temática.
Depois de desembarcarmos , saímos para fazer uma caminhada na Ilha, acompanhados pelo sub-comandante da base, saímos no sentido sul, passamos pela praia das Tartarugas, pela praia da Parede de vulcão, e fomos até o túnel do “bauducão”, passando pelas piscinas naturais, onde tomamos um delicioso banho de mar.
Em trindade as tartarugas tem um tamanho de uma mesa de 6 lugares, e se encontram os rastros delas por toda a praia.O tamanho de suas pegadas, ou melhor “rastros” e o também de seus ninhos é de dar medo, parece coisa de dinossauro.
Quando estávamos a bordo do veleiro , rumando da enseada dos príncipes rumo a enseada dos portugueses, vimos algumas delas nadando embaixo do barco, indescritível.
Uma pena elas só chegarem a praia durante a noite, mas como falei anteriormente, com uma dose de sorte avistamos algumas.
No caminho de volta a Vitória , vimos também um cardume de golfinhos, que nos presenteou e nos acompanhou por boa parte do dia .
O contato com a natureza nos deixa Zen, veja só que interessante:
Ver o sol nascer , o sol se por , ver a lua minguando , ver o mar infinito, sentir o vento lhe envolvendo, tudo isto não tem preço.
A gente entra numa sintonia, saca o movimento do mundo, sente a presença da terra no universo.
A técnica é simples:
- de manhã, vc vê o sol despontar a leste, lá pelas 5 e meia da manhã, bem na proa( na ida), só mar ao través e popa, céu e mar.
Rumamos em sentido do sol, indo literalmente atrás dele. Ele sobe e vc avança, corre por sobre você o dia todo e... de repente ele se põe na sua popa, bem a oeste.Realizando com num moto contínuo, seu movimento eterno , preciso e singular.
Depois vem a noite ( dia 18 a largada foi dada em lua cheia), no primeiro dia ela apareceu as 7 , 7 e meia da noite, e dia após dia acompanhamos sua evolução.
Ao cair da noite o céu fica escuro como breu, não dá para ver absolutamente nada, tudo é preto, neste momento você fica em companhia das estrelas, no primeiro dia um pouco timidas, mas a medida que nos enfiávamos mar a dentro , longe das cidades e seus clarões, isolados no meio ocenao o céu rapidamente se transforma.
Ficávamos aguardando a chegada da lua, como um espetáculo com hora e lugar marcado.
A cada dia a bela dama vai diminuindo o tamanho de seu rosto e atrasa para o encontro em exatos 40 minutos.
No final dos 13 dias de viagem , ela desapareceu, não veio ao encontro, iluminar o nosso caminho, dar luz as trevas da noite oceânica, todavia , mesmo assim mandou um pouco de sua claridade por trás do horizonte, nos deixou a vontade para flertarmos com as estrelas.
A cada dia acompanhei o nascer do sol, o pôr do sol, o cair da noite , a nascer da lua, as estrelas e constelações que já reconheço com facilidade, enfim acompanhei o mundo girar, simples não?!

O RETORNO.

Ficamos na ilha da madrugada de domingo até as 2;45 da madrugada de segunda feira, quando partimos deste ponto longínquo, fantasmagórico e maravilhoso.
Zarpamos da enseada do príncipe deixando para trás a âncora danfort de 20 kilos que havíamos lançado no meio da tarde, deixamos uma poita presa a ela, quem sabe no ano seguinte ainda nos aguardaria??
A F.D.P da âncora agarrou no fundo de areia e pedras , tentamos todas as manobras possíveis com o potente motor do Starcut, mas só seria possível retira-la mergulhando, e de noite, numa escuridão intensa, com o mar cheio de tubarões , e uma correnteza enorme, quem se habilita??, ta louco!!! deixa para lá, marcamos o ponto dela no gps e fomos embora.
Já em Vitória fomos surpreendidos pela tripulação do “ Mar sem fim” que havia resgatado a nossa âncora e nos entregado em mãos , em casa. Coisas de Thomas Lipton.
Cruzamos a proa do Tridente com um vento fresco de cerca de 15 nós, e dada a largada o cronômetro dispara em um regata contra o relógio.
Uma semana e um dia depois da largada , exatas 2;45 da manhã.
Velejamos todo o tempo com ventos pelo través, o que fez com que a regata adquirisse um aspecto mais esportivo e menos aventureiro/sôfrego, que na ida quase um teste de resistência física..
Com ventos favoráveis o barco surfou as ondas do atlântico cruzando no paralelo 20 as longitudes de 40 a 31 graus, numa velog de 6 a 9 nós.
Ondas grandes, bons ventos, o que mais poderíamos querer para vejelar?
Durante a tarde do segundo dia do retorno,ficamos encalmados, sem vento nenhum , durante pelo menos umas 3 intermináveis horas, é TERRÍVEL, super SACAL! O barco joga de um lado a outro, sacode a vera mas não sai do lugar.
Ao cair da tarde , com a queda da temperatura entrou uma brisa e o rajadão starcut voltou a singrar bonito.
Velejamos noite e dia, dia e noite, sempre com um timoneiro tirando o máximo em parceria com um trimer, que seguia regulando as velas, regata 24 horas por dia, á vera.
O tempo todo um tira e põe de velas que não se tem idéia, trabalho mesmo.Tira genoa, coloca balão, tira balão coloca genoa, quebra adriça sobe no mastro( c/ barco andando a mil ...).
O Arturo subiu no mastro 4 vezes para acertar a adriça, com um vento de 20 nós e ondas de 3 metros da altura.
Alías nas empopadas, nos ventos favoráveis, foi quebrando um monte de coisa do barco, toda hora uma besteira , primeiro a adriça, depois o garlindéu do pau de spy , depois o sistema de fixação dos moitões do traveller, depois o preventer, em seguida uma escota puída, a assim foi indo e a gente vendo o lindo e luxuoso benetau se transformando num verdadeiro laboratório de aparatos técnicos( gambiarras).
Apesar dos pequenos percalços o percurso de volta foi uma delícia, deu para curtir cada segundo no barco, timonear, surfar aquelas ondas, sentir a natureza, sentir o organismo, o próprio corpo se regenerando , se tonificando, a plena saúde do corpo e da alma.
No último dia de viagem , a noite começou com um ventão do caramba, balão em cima, e o barco se demonstrou excelente em...:- cavalos de pau, atravessava com uma facilidade incível, tinha que ficar vivo no leme senão era, plá-pla-plá, a vela chicoteando a mil até retomarmos o rumo novamente.
Céu estrelado, o barco deslizando, zunindo, todos dando o máximo de si , empenhados, fazendo cáculos de tempo para ver saber de nossas possibilidades com nossos concorrentes( curumi e shaltz).
Precisávamos chegar até as 9 da manhã para ganharmos as 12 horas que perdemos na ida e faturarmos a regata, recuperávamos hora por hora , dia por dia, o andamento estava excelente.
Tudo indo muito bem, a média, o rumo certinho e vento a vontade.
Cansado fui dormir as 2 e meia da manhã, ao término do meu quarto, ansioso por acordar e acompanhar a aproximação da terra.
Acordei com aquele sacode, pá ... pou... cleeeeeeeks.. pá.. calmaria total, boiávamos no meio do mar, que estava super mexido. Que merda!
A nossa previsão de chegada passara de 9 da manhã para as 13 horas, e a nossa colocação já era, mas mesmo assim fomos em frente com o astral de campeões pois cientes estávamos de todo esforço que fizemos em prol da performance.

Momentos finais.

9;45, entra um brisa de 4 nós e começamos a nos deslocar devagarzinho.

Como não tinha há muito o que ser fazer, a não se esperar, preparei a última refeição disponível a bordo, interessante pois acertamos a conta do rancho na mosca, ao abrir a lata de feijoada e prepara-la com alguns ingredientes extras como alho, cebola, bacon etc., tal como um arroz , terminava ali o nosso estoque de comidas.

Apriveitamos para tomar nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn banhos de água doce, no banheiro e tudo, e depois todos colocamos nossas roupas de gala limpinhas , prontos e ansiosos para chegarmos ao porto.

Já avistávamos o mestre álvaro desde o começo da manhã, que aos poucos com o vento entrando e entrando , foi se aproximando rapidamente, e no comecinho da tarde entramos empopados de balão na rota da praia de camburi, onde já nos esperava Alexandre Negão em seu “melhora”, apontamos para o clube ansiosos para chegar, e nos metros finais ainda rompemos o pau de spy ao meio.

Continua, mas é finalzinho.

Capítulo décimo, transformando um apartamento num veleiro.

Capítulo décimo primeiro , amsterdam sail 2005 e áfrica do sul 2007.

Capítulo décimo segundo, o que se leva desta vida.

Capítulo décimo terceiro, devaneios.